Carta Mensal - Abril de 2025
- Propósito Capital
- 21 de mai.
- 6 min de leitura
Ciclo Político Vs Ciclo Econômico

“A cada 15 anos, o Brasil esquece tudo o que aconteceu nos últimos quinze anos.”
Ivan Lessa
A literatura e a ciência econômica transcorreram e investigaram ao longo dos séculos, as causas e origens do desenvolvimento e riqueza. Em pleno 2025, não é segredo para as pessoas e empresas (e nem para os políticos) que grandes avanços se dão com o tempo. Planejamento, implementação, correção e tempo para mudar a renda média e realidade de uma nação, assim como para prosperar individualmente ou construir uma empresa de sucesso.
Tais características — planejamento, paciência e ajustes contínuos — refletem diretamente a dinâmica dos ciclos econômicos. Esses ciclos representam as fases pelas quais a economia de um país (ou mesmo do mundo) naturalmente passa: momentos de crescimento, estabilidade, desaceleração e recuperação. São movimentos periódicos, muitas vezes inevitáveis, que mostram como o progresso econômico não segue uma linha reta, mas sim oscilações, influenciadas por fatores internos e externos.
Entender os ciclos econômicos é essencial para interpretar porque, em certos momentos, há expansão do crédito, aumento de investimentos, geração de empregos e otimismo. Enquanto em outros, ocorrem retrações, desemprego e incertezas. Assim como no desenvolvimento pessoal ou empresarial, o crescimento de uma economia exige resiliência para suportar as fases difíceis e visão estratégica para aproveitar os momentos de alta.
Porém, o ciclo econômico nem sempre coincide com o ciclo político. Aquele de 4 em 4 anos no Brasil, onde o Presidente eleito precisa entregar promessas que não estejam de acordo com o contexto do país. Frente ao populismo intenso vivido no Brasil, a tentação para não respeitar o ciclo econômico e tentar antecipar crescimento, costuma cobrar a conta constantemente.
Em carta recente, a MAR Asset relatou em detalhes que a grande invenção do século passado se deu com John Maynard Keynes que providenciou aos políticos a arma da política fiscal. O economista inglês propôs o uso dos gastos do governo como ferramenta de anteparo temporário a grandes movimentos negativos do ciclo econômico. Keynes, na construção de sua original ideia, tentava suavizar o sofrimento econômico e social imposto à Alemanha pelos países vencedores da Primeira Guerra.
Porém, as suas ideias na prática nunca foram temporárias. Durante a crise de 1929, foi Franklin Roosevelt que inaugurou a teoria. A recuperação da economia americana após a eleição de Roosevelt foi muito bem-sucedida. A explosão de gastos do governo, em um primeiro momento, funcionou e ele foi reeleito por mais três vezes como presidente; e o mundo político descobriu a força e poder da ferramenta fiscal.
Dali em diante, passamos a conviver com ciclos econômicos mais intensos causados por irresponsabilidades fiscais que são consequência do ciclo político. Ações populistas que tentam antecipar crescimento e postergam desenvolvimento sustentável.
Pela natural descorrelação do desenvolvimento de uma nação com os curtos mandatos presidenciais, ainda não encontramos solução para o vício de poder. Sendo assim, ficou conhecida como ciclo político a tática de implementar políticas duras nos primeiros meses de governo, dada a força da vitória eleitoral recente, para obter resultados e flexibilizar o fiscal como arma nos anos finais, visando uma reeleição.
Surpreendentemente, o atual governo optou pelo inverso e despertou surpresa nos agentes de mercado e analistas políticos. A utilização de uma potente injeção fiscal logo nos primeiros anos de governo desandou as contas públicas na direção de um déficit fiscal superior ao da pandemia. O resultado econômico foi positivo, mas os receios do impacto destrutivo a médio prazo dessa demanda artificial, fez o governo não obter os ganhos de popularidade esperados.
Tais reflexões e fatos foram o nosso cotidiano neste duro período para os mercados no Brasil. Juros em patamar recorde desde 2006 e ativos de risco abandonados. Recorde de recuperações judiciais e receios no crédito. Porém, depois de dominar a pauta de debates e listas de preocupações dos investidores brasileiros, o temor fiscal parece ter sido deixado de lado nos últimos meses devido as tensões tarifárias impostas pelos Estados Unidos e um fluxo financeiro aos mercados emergentes. Ativos de risco brasileiros passaram a desempenhar bem e a próxima eleição superou o fiscal como principal tema na pesquisa de alocação realizada pelo BTG Pactual. No entanto, os problemas não foram superados e um questionamento que pouco temos observado é acerca das surpresas inconvenientes que o descontrole das contas públicas pode causar até o final de 2026.
Embora esteja afastado das manchetes, o conflito entre interesses políticos de curto prazo e o tempo necessário para a prosperidade econômica persistem. Sempre existirão e nos soa óbvio que novas medidas, ainda desconhecidas, serão utilizadas na tentativa de reeleição.
Como temos escrito há meses, o Brasil e os demais emergentes estavam abandonados frente ao excepcionalismo americano. Ações brasileiras possuem uma assimetria favorável e mantemos a convicção dessa exposição, mas cumpre neste momento em que o mundo se volta ao Brasil e relatórios otimistas sobre o Ibovespa são publicados, manter a atenção para as oscilações que ainda viveremos antes do processo eleitoral.
Estamos à disposição para debater os tópicos aqui tratados e outros que lhe interessem. Contem conosco para conduzir seus investimentos da forma que você merece.
CENÁRIO ECONÔMICO E DE MERCADO
Para este mês de abril pontuamos a manutenção das incertezas causadas pelas políticas americanas e uma quebra de confiança nos Estados Unidos. Impactando em desvalorização do dólar na medida que elevam as incertezas. Por outro lado, os emergentes despontam como alternativas nos portfólios globais depois de anos com pouca atenção.
BRASIL
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,43% em abril, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O dado veio acima das expectativas e foi puxado novamente pelo grupo de alimentação que esteve em 0,82%; e gastos com saúde com 1,18%. No ano de 2025, o IPCA acumula alta de 2,48% e, nos últimos doze meses, o índice ficou em 5,53%, acima do teto da meta.
Na terceira reunião de 2025 e sob comando de Gabriel Galípolo, o Conselho de Política Monetária (COPOM) elevou novamente a Selic em 0,50%, para 14,75%, entregando três elevações na taxa de juros neste ano e atingindo o maior patamar desde 2006.
O resultado primário do setor público consolidado foi superavitário em R$ 3,6 bilhões em fevereiro de 2025. O Governo Central e as empresas estatais registraram, na ordem, déficits de R$ 2,3 bilhões e R$ 566 milhões, e os governos regionais, superávit de R$ 6,5 bilhões. Em doze meses, o setor público consolidado acumulou déficit de R$13,5 bilhões, 0,11% do PIB, ante déficit de R$ 15,9 bilhões, 0,13% do PIB, acumulado até fevereiro.
O resultado nominal do setor público consolidado, que inclui o resultado primário e os juros nominais apropriados, foi deficitário em R$ 71,6 bilhões em março. No acumulado em doze meses, o déficit nominal alcançou R$ 948,5 bilhões (7,92% do PIB), ante déficit nominal de R$ 939,8 bilhões (7,91% do PIB) em fevereiro de 2025.
Conforme salientado ao longo das últimas cartas mensais, enquanto os acontecimentos econômicos internacionais abrem oportunidades para o Brasil, internamente as contas públicas vêm sendo dilaceradas e preocupam cada vez mais os agentes de mercado que demandam juros maiores.
MUNDO
No cenário global, foco na guerra comercial entre os países que passam a retaliar e negociar com os Estados Unidos após a imposição de tarifas mínimas as mais diversas nações. O mês foi marcado por um acordo temporário de 90 dias entre EUA e China que acalmaram os mercados.
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos Estados Unidos aumentou 0,2% no mês passado, após uma queda de 0,1% em março, que havia sido o primeiro declínio desde maio de 2020, informou o Departamento do Trabalho. Com isso, a inflação anual caiu para 2,3%. No entanto, as previsões de inflação foram revisadas para cima em um cenário em que as tarifas entrem em vigor e elevem custos ao redor do mundo.
O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos caiu 0,5% em abril ante março, segundo pesquisa divulgada pelo Departamento do Trabalho do país. Na comparação anual, o PPI avançou 2,4% em abril.
O número de novas vagas de trabalho nos Estados Unidos em abril superou as expectativas dos economistas e afastou os sinais de recessão da economia americana. Os dados do Payroll mostraram 177 mil novas vagas fora do setor agrícola. O resultado veio um pouco abaixo do número de março, que foi revisado para 185 mil, mas ainda assim acima do esperado, que era algo em torno de 130 a 140 mil.
Os números de abril, no entanto, ainda não refletem totalmente a política tarifária de Trump, anunciada no início daquele mês, e trazem sinais de cautela, de acordo com os analistas.
Esses números colocam a taxa de desemprego estável, em 4,2%.
Agradecemos a leitura, o tempo e a confiança.
Pedro De Cesaro Rodrigo Villa Real
Founding Partner Chief Investment Officer
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