Ano novo, Pense de novo
“O progresso sem mudança é impossível, e quem não consegue mudar a própria mente não consegue mudar nada.”
George Bernard Shaw
No livro Pense de novo, o professor de Wharton, Adam Grant enaltece o poder e valor de sabermos as coisas que não sabemos. Aceitar e conhecer os limites de nosso conhecimento nos possibilita aprender.
Adam Grant reflete na obra sobre o que seria preparo mental. Normalmente pensamos em inteligência como resposta; e quanto mais inteligente é uma pessoa melhor ela estará para resolver problemas. Porém, em um mundo turbulento, há outro conjunto de habilidades cognitivas que pode ser mais importante: a capacidade de repensar e desaprender. Pois, uma vez que aceitamos algo como verdadeiro, raramente nos damos ao trabalho de questionar essa verdade.
Neste período de festas e ano novo, convidamos todos para pensarmos de novo. Inspirados pela obra revisitamos o ano de 2023 que é em nossa opinião um belo exemplo do que Adam Grant pretende transmitir.
O último ano teve início com muita incerteza e previsões pessimistas ao redor do mundo. A recessão norte americana era dada como certa, bastava saber quando viria e por consequência as bolsas globais estavam projetadas com um viés pessimista. No entanto, gradativamente as expectativas foram sendo revisadas e o aperto monetário suavizou a inflação alta que assolava os países. O movimento foi visto tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.
Diante disto, apesar de alguns sustos no caminho e elevada volatilidade, os ativos de risco performaram positivamente e surpreenderam analistas ao redor do mundo. O PIB brasileiro mais forte do que o esperado – tendência dos últimos anos – e a inflação acomodada permitiu a redução responsável dos juros no país.
Em meio a tantas revisões e surpresas, o ano de 2023 foi marcado pela necessidade de não nos apegarmos em verdades absolutas. Contendo a autoconfiança exagerada que Adam Grant alerta, a gestão de investimentos exigiu a prática do repensar e desaprender quando necessário, como no caso de tendências históricas que não se repetiram – vide nossa Carta Yield Curve, publicada em Julho.
Concluindo, como disse George Bernard Shaw “quem não consegue mudar a própria mente não consegue mudar nada”. Desejamos para este ano a capacidade de repensar e estarmos abertos a mudarmos de opinião quando os fatos e dados provarem nosso equívoco.
CENÁRIO ECONÔMICO E DE MERCADO
Para este mês de dezembro destacamos a manutenção do otimismo nos mercados globais com redução das expectativas inflacionárias e a curva de juros americana antecipando o primeiro corte.
BRASIL
A prévia da inflação brasileira, o IPCA-15, avançou 0,40% em dezembro. O número veio muito acima do esperado em 0,25%. Na variação acumulada em 12 meses, o IPCA-15 caiu para 4,72% em dezembro.
O IGP-M cresceu 0,74% na observação mês a mês; e a expectativa era de 0,67%. A inflação acumulada em 12 meses do índice desacelerou para -3,18%, vindo de -3,46% e o consenso do mercado estava em -3,25%.
Em novembro, o governo central brasileiro registrou um déficit primário de R$ 39,4 bilhões. Os gastos do governo totalizaram R$ 174,9 bilhões, contra R$ 146,9 bilhões em novembro de 2022. O ano foi marcado por constantes iniciativas para elevar a tributação e suprir os elevados gastos da nova gestão.
Depois de 30 anos de discussão, o Congresso Nacional deu um passo histórico e promulgou, em dezembro, a reforma tributária.
Dados retrospectiva
O Ibovespa encerrou o ano em alta superior a 22% e renovou seu recorde nominal rompendo os 130 mil pontos, enquanto o SMLL valorizou 17,20% no período. A Taxa Selic iniciou o ano em 13,75% e terminou em 11,75%.
Falando em juros, podemos alegar que foi um ano institucionalmente importante ao Banco Central Brasileiro. O BC começou 2023 sob forte ataque o Presidente eleito e manteve sua postura inalterada, aguardando o momento adequado para a redução dos juros e o fazendo em ritmo menor do que era pressionado para fazer. Adicionalmente, as indicações de diretores a instituição não vieram da ala ideológica do governo.
MUNDO
Em um ano que todas as perspectivas apontavam para uma recessão nos Estados Unidos, o que ocorreu efetivamente foi uma reversão desse pessimismo, juros mais elevados do que o esperado e uma intensa valorização nas bolsas americanas. Reforçando o tema de abertura da Carta quanto a necessidade de repensamento constante.
O ano de 2023 começou com uma guerra na Europa entre Rússia e Ucrânia. Sanções ao redor do globo contra a Rússia acionaram um alerta em diversos países que começaram a refletir sobre a sua dependência do dólar e no território europeu a aliança de países neutros com a OTAN.
Ano começou com conflito na Europa e terminou com outro no Oriente Médio, com o ataque do grupo terrorista Hamas a Israel.
Na América Latina, Javier Milei surpreendeu o mundo ao torna-se o novo Presidente da Argentina vencendo Sérgio Massa no segundo turno da eleição.
Agradecemos a leitura, o tempo e a confiança.
Pedro De Cesaro Rodrigo Villa Real
Founding Partner Economista-chefe
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