Carta Mensal - Fevereiro de 2025
- Propósito Capital
- 17 de mar.
- 6 min de leitura
Trump War

“Excelentes coisas podem acontecerde grandes reveses.”
Donald Trump
Os primeiros meses do ano tem provocado múltiplas reflexões e questionamentos ao redor do mundo e nos mais variados aspectos. Política internacional, técnicas de negociação e literatura econômica dominaram o debate público na medida que o novo governo de Donald Trump anunciou as suas tarifas e as colocou em prática. Saindo da ameaça e indo para a ação. Dúvidas quanto aos objetivos de Trump criaram a incerteza necessária para frear o ciclo de valorização das bolsas americanas. O que foi visto nos últimos anos como melhores ativos para se carregar, agora desvalorizam e mercados abandonados como a Europa e emergentes, passam a serem analisados novamente.
Em um primeiro momento, podemos dizer que tal incerteza é consequência do rompimento americano com valores que levaram o país a conquistar a posição de liderança política e econômica no mundo. Os Estados Unidos carregam consigo a representação do livre mercado e capitalismo, representam pressupostos de competição e o sonho americano está respaldado nessa concepção. Porém, o novo governo tem como principal medida elevar tarifas aos seus parceiros comerciais. E cabe destacar que tarifas são impostos sobre a sua própria população, tarifas tornam os produtos internacionais mais caros para beneficiar setores e produtores ineficientes dentro do seu território. Uma escolha que o Brasil aplica de forma ineficiente, às custas do seu povo, há décadas.
Quando o país que simboliza o livre comércio parte para essa postura protecionista, é compreensível que a dúvida do futuro se sobreponha aos fundamentos micro das melhores empresas do mundo (ênfase na queda acentuada da Nasdaq).
Por outro lado, temas complexos não possuem respostas simples. Se faz necessário refletir se a Pax Americana está caindo com a gestão de Donald Trump ou se ela vem sendo enfraquecida há mais tempo; e por outros atores. Quando a segunda Guerra Mundial encerrou e o período de guerras foi substituído por uma era de paz, com os EUA como ator principal, o filósofo e economista americano, Francis Fukuyama, escreveu o famoso livro The End of History and the Last Man, em 1992. Nele, Fukuyama alegava que a história havia acabado após a superação das guerras mundiais e da Guerra Fria. A queda do muro de Berlim e da União Soviética representava um novo mundo que entrava no consenso dos valores ocidentais e do livre mercado.
Essa visão proporcionou paz e desenvolvimento econômico acentuado ao redor do mundo. No entanto, críticos a visão mais simples que condena Trump, alegam que a China absorveu a indústria do mundo nas últimas décadas a partir de uma competição desleal. Sendo ela, uma das principais responsáveis pela instabilidade política e elevação de conflitos. Por essa perspectiva, os Estados Unidos estariam revidando na tentativa de reconquistar uma estabilidade que há muito se perdeu.
Trazemos essas duas percepções na tentativa de instigar maiores reflexões sobre os distintos cenários que podemos enfrentar na próxima década – ou pelo menos nestes quatro anos de Donald Trump. A Trump War tarifária que teve início em janeiro é um fim em si mesmo?
Qual é o objetivo final? Essa é a pergunta mais relevante em nosso entendimento para que se possa analisar efetivamente as políticas e medidas implementadas neste início de governo americano. Negociar melhores termos comerciais com os países tarifados? Desacelerar a economia americana para combater a inflação e obter uma redução no patamar dos juros? Juros que hoje comprometem ainda mais uma enorme dívida fiscal. Em todas essas hipóteses as tarifas e bravatas iniciais são um meio e não fim em si mesmo, mas os objetivos finais implicam em uma trajetória diferente no preço dos ativos que nos despertam interesse.
Enquanto acordos comerciais melhores propiciam um ambiente mais favorável as empresas americanas, uma recessão forçada iria a curto prazo no sentido oposto, mas viria a ser positivo a médio prazo com a estabilização da economia americana em um patamar de juros e inflação menor.
A dúvida e incerteza quanto essa trajetória impactou negativamente as bolsas nos EUA e apreciaram ativos europeus. Adicionalmente, essa realização de lucros em primeiro momento, mostrou-se positiva para mercados emergentes que receberam fluxo e começam 2025 em situação mais favorável do que vivenciaram nos últimos anos frente a uma dominância americana. O Brasil se enquadra neste grupo e temos presenciado a apreciação do Ibovespa frente a uma volatilidade no exterior. Como escrevemos no mês passado, momentos de volatilidade, estresse e dúvida geram desconfortos e oportunidades únicas. Ativos de risco brasileiros negociam hoje em um preço de desastre econômico e com baixa liquidez; e chamam atenção por essas características.
Portanto, recai a questão se os Estados Unidos enfrentarão uma recessão e desaceleração econômica suave ou intensa. No primeiro cenário, compreendemos que o movimento destes últimos meses se perpetuaria e beneficiaria mercados emergentes. No segundo, o fluxo poderia retornar aos Estados Unidos, atendendo a teoria do Dollar Smile. Quanto aos Estados Unidos, cabe reforçar a importância de nos afastarmos do ruído e compreendermos o que está por trás das medidas confusas e irracionais pela ótica econômica. O confronto geopolítico que o mundo vivencia não possui respostas simples e é esperado que os mercados oscilem nesse ínterim. No entanto, contem conosco para conduzir seus investimentos da forma que você merece.
CENÁRIO ECONÔMICO E DE MERCADO
Para este mês de fevereiro pontuamos o início do governo de Donald Trump com incertezas quanto ao comércio internacional e impacto das tarifas impostas a diversos países. As bolsas americanas foram negativamente impactas enquanto ativos europeus e mercados emergentes se beneficiaram. No Brasil, as preocupações fiscais persistem e as mudanças nos ministérios proposta pelo governo não foram bem recebidas, com a sensação de maior distanciamento da articulação ao centro e oposição.
BRASIL
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 1,31% em fevereiro, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse foi o maior IPCA para um mês de fevereiro desde 2003 (1,57%). No ano de 2025, o IPCA acumula alta de 1,47% e, nos últimos doze meses, o índice ficou em 5,06%, acima do teto da meta.
Na primeira reunião de 2025 e sob comando de Gabriel Galípolo, o Conselho de Política Monetária (COPOM) elevou a Selic em 1%, para 13,25%, cumprindo o compromisso sinalizado na última reunião de 2024 e manteve o posicionamento de uma nova elevação na reunião de março. Esperamos nova elevação de 1% na reunião de março.
O resultado primário do setor público consolidado foi superavitário em R$ 104,1 bilhões em janeiro de 2025, ante superávit de R$ 102,1 bilhões no mesmo mês de 2024. No mês, o Governo Central e os governos regionais registraram superávits respectivos de R$ 83,1 bilhões e de R$ 22,0 bilhões, e as empresas estatais, déficit de R$ 1,0 bilhão. Em doze meses, o setor público consolidado obteve déficit de R$ 45,6 bilhões, equivalente a 0,38% do PIB e 0,02 p.p. inferior ao déficit registrado nos doze meses até dezembro de 2024.
O resultado nominal do setor público consolidado, que inclui o resultado primário e os juros nominais apropriados, foi superavitário em R$ 63,7 bilhões em janeiro. No acumulado em doze meses, o déficit nominal alcançou R$ 956,5 bilhões (8,05% do PIB), ante déficit nominal de R$ 998,0 bilhões (8,45% do PIB) em dezembro de 2024.
Conforme salientado ao longo das últimas cartas mensais, enquanto os acontecimentos econômicos internacionais abrem oportunidades para o Brasil, internamente as contas públicas vêm sendo dilaceradas e preocupam cada vez mais os agentes de mercado que demandam juros maiores.
MUNDO
No cenário global, foco nas tratativas de cessar-fogo e negociações de paz na guerra entre Ucrânia e Rússia. Ademais, postura de afastamento da Ucrânia por parte dos Estados Unidos desencadeou em uma corrida militar nos países europeus e, em nossa visão, mudou a perspectiva do continente para o longo prazo.
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos Estados Unidos subiu 0,2% em fevereiro. A taxa acumulada da inflação nos últimos doze meses foi de 2,8%. Em janeiro, o índice havia atingido 3% na taxa anual e 0,5% na variação mensal. O dado veio abaixo do que a maioria dos analistas esperava.
O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos permaneceu estável no mês de fevereiro, com a variação nula (0,0%), revelou o Bureau of Labor Statistics. O indicador veio acima das apostas dos analistas, que esperavam aumento de 0,3% no mês. Sendo assim, tanto o CPI quanto o PPI vieram abaixo das estimativas em fevereiro.
O mercado de trabalho dos Estados Unidos abriu 151 mil postos de trabalho em fevereiro, de acordo com os dados do relatório de emprego conhecido como payroll divulgados pelo Departamento do Trabalho. A expectativa de analistas era de que haveria a criação de 160 mil vagas, sendo o segundo mês do ano vindo abaixo do esperado.
A taxa de desemprego subiu de 4% para 4,1%.
Agradecemos a leitura, o tempo e a confiança.
Pedro De Cesaro Rodrigo Villa Real
Founding Partner Chief Investment Officer
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