Lições de janeiro para o ano
“O melhor modo de obter sucesso é merecê-lo.”
Charlie Munger
“O segredo do sucesso é a constância do propósito.”
Benjamin Disrael
A virada de ano reforça nas pessoas e empresas a prática de revisar, definir as metas e planejar a execução para o novo ano que começa. Com isso, o mês de janeiro é um dos principais momentos de reflexão; e este em específico tratou de elucidar alguns dos temas e rumos centrais do mercado para 2024.
Acreditamos que o mercado tende a transitar entre temas e narrativas que dominam a atenção enquanto a economia real funciona em paralelo. Esse comportamento cria volatilidade, momentos de estresse que exigem tranquilidade e oportunidades. Sendo assim, é importante atentarmos para os fatores que podem virar a chave positivamente ou negativamente na economia, política e mercados.
Começamos janeiro com toda a atenção para as decisões monetárias dos bancos centrais ao redor do mundo e quais seriam seus discursos para mapearmos os passos iniciais deste ano.
Em um de seus livros, Nassim Taleb questiona o que faz algumas pessoas serem mais bem-sucedidas que outras e reflete se existe uma completa relação com habilidade e estratégia ou se fatores externos, como a sorte, também possuem influência. Trazemos a referência para expor que o sucesso nos investimentos pode vir não necessariamente de grandes acertos, mas da contenção dos principais riscos macroeconômicos. Por isso, é crucial termos em mente os pontos centrais ao qual abordamos na abertura da carta.
Depois de uma injeção monetária sem precedentes pelos bancos centrais, o mundo vivenciou um período duro e longo de inflação. Todos os países aplicaram o mesmo remédio: juros altos. O Brasil acertou ao antecipar o movimento de elevação dos juros e com isso, pôde de forma inédita começar o seu ciclo de redução dos juros antes dos Estados Unidos e do continente europeu.
Com isto em mente, dentre diversas previsões para o novo ano que se inicia duas são quase unânimes: 1) O mundo deve crescer menos em 2024; e 2) os juros devem cair. Sem dúvida, a redução dos juros será um comportamento natural e esse é o grande tema mundial dado o seu impacto nos mercados. O Brasil já iniciou o seu ciclo, mas o ponto final de até onde desceremos a Selic não depende somente do nosso banco central; e sim do Federal Reserve que também precisa reduzir preservando um diferencial de juros que não prejudique o nosso câmbio.
Sendo assim, taxas de juros nos Estados Unidos e atividade econômica despontam como os principais temas a serem monitorados. Janeiro trouxe o FOMC mantendo a taxa de juros inalterada nos EUA e um discurso duro afastando a possibilidade de redução em março. Ademais, um mercado de trabalho resiliente apontado pelo relatório de emprego movimentou essa janela para o meio do ano. De qualquer forma, a probabilidade de uma redução de 100 bps no ano segue elevada.
No Brasil, as contas do setor público tiveram uma piora de R$ 375 bilhões, dado que o governo reverteu um superávit de R$ 126 bilhões no ano de 2022 para um prejuízo histórico de R$ 249,1 bilhões em 2023. O déficit do primeiro ano de governo Lula é o segundo pior da série histórica e sinaliza para o tema do momento para as expectativas brasileiras.
Com um novo corte de 0,50% na Taxa Selic, o banco central enfatizou que essa é a intensidade do atual ciclo de queda. O relatório Focus aponta uma taxa terminal de 9% e os otimistas alegam que poderia diminuir mais. A resposta dessa divergência dependerá da taxa de juros americana e do nível de deterioração fiscal brasileira. Qual o tema relevante? Analisar os primeiros meses e comportamento das contas.
De qualquer forma, acompanharemos a curto prazo a redução da Selic e os pós-fixados devem ficar em torno de 10% de retorno neste ano. A inflação ainda controlada deve ser um fator de risco para o próximo ano.
Conhecendo os temas que devem conduzir as narrativas do mercado e os seus devidos riscos potenciais, é possível planejar e construir a melhor alocação de capital.
CENÁRIO ECONÔMICO E DE MERCADO
Para este mês de janeiro destacamos a manutenção do otimismo nos mercados globais com redução das expectativas inflacionárias e o início do ciclo de cortes ao redor do mundo. Apesar de múltiplos riscos potenciais, a tendência macro do ano com juros menores deve prevalecer frente aos fatores negativos.
BRASIL
A inflação brasileira voltou a surpreender com um resultado superior ao esperado pelo consenso de mercado. O IPCA de janeiro foi de 0,42%, ante expectativa de 0,31%. O principal grupo de elevação é o de alimentos que subiu 1,38% no mês.
Em decisão unânime, o COPOM decidiu cortar novamente a Taxa Selic em 0,50% para 11,25%. Atingindo o menor patamar desde março de 2022. O Conselho sinalizou que este deve ser o tamanho dos cortes no ciclo de queda a perdurar durante todo o ano.
MUNDO
No último dia de janeiro, o Federal Reserve decidiu pela 4ª reunião seguida manter no mesmo nível os juros básicos da economia do país. A taxa oscila dentro de uma banda entre 5,25% e 5,50% ao ano desde julho. A decisão era esperada e atenção estava voltada para o discurso de Jerome Powell que afastou a possibilidade de o ciclo de cortes iniciar em março.
Se não bastasse o discurso de Powell, o relatório de emprego americano (Payroll) demonstrou números muito acima do esperado sinalizando uma força da atividade. As vagas acima da expectativa e salários elevados causaram volatilidade e adiaram as projeções de juros menores nos Estados Unidos.
Por outro lado, no continente europeu, o Banco Central da Inglaterra (BoE) decidiu pela manutenção da taxa de juros básica a 5,25% ao ano, mas o comunicado sinaliza que haverá redução em 2024.
Agradecemos a leitura, o tempo e a confiança.
Pedro De Cesaro Rodrigo Villa Real
Founding Partner Economista-chefe
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