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Carta Mensal - Janeiro de 2025



O Cisne Chinês




“O mercado é uma máquina que transfere dinheiro dos impacientes para os pacientes.”

Warren Buffett


O mês de janeiro abriu 2025 gerando dúvidas na concepção enraizada de que não há competidores por inteligência artificial no mundo frente as empresas americanas que lideram atualmente a corrida. Essa concepção, somada ao juro elevado na economia americana, criou um imã de liquidez global para os Estados Unidos. Fortalecendo o dólar frente as mais variadas moedas e mantendo as bolsas americanas em constante valorização nos últimos dois anos.


Eis que um Cisne Chinês, chamado DeepSeek, surgiu em janeiro. A publicação dos resultados de performance e custos surpreendeu o mundo e gerou uma segunda-feira vermelha para as empresas de tecnologia. A Nasdaq caiu acentuadamente e a Nvidia perdeu US$ 598 bilhões de dólares em único dia, a maior perda de valor de uma companhia em um único dia na história. O movimento exacerbado foi ajustado nos dias seguintes, mas a dúvida não irá embora. Com um novo competidor, não listado nos EUA, na revolução de IA que estamos vivendo, muitos perceberam que esse jogo pode não estar ganho e novas surpresas e revoluções podem vir à tona. Tal entendimento e a definição de que os juros vão reduzir nos Estados Unidos, devagar, mas irão, ao longo deste ano, promove uma dispersão de liquidez que antes estava concentrada nos Estados Unidos. Ativos de risco ao redor do mundo são potenciais vencedores. Emergentes? Mais ainda. Brasil? Basta resolvermos nossos problemas internos.


Quanto ao DeepSeek, um estudo excelente da Aster Capital merece ser compartilhado e difundido. A liquidez global pode estar voltando, mas as desvalorizações presenciadas estão corretas? Estaria a empresa chinesa tão a frente na competição? O material produzido pela Aster Capital destacou que “o DeepSeek apresentou falhas nas questões de segurança dos modelos. Os testes mostraram que estes modelos têm um desempenho abaixo do esperado em comparação com modelos similares, o que levanta questões sobre sua confiabilidade em ambientes com dados sensíveis, como aqueles encontrados nos setores de saúde e finanças”.


Preocupação relevante e que favorece as outras empresas presentes nessa corrida. Ademais, na conclusão do estudo a gestora alega que “em nossa visão, o DeepSeek V3 é uma boa alternativa para cenários simples, mas não representa uma mudança de paradigma no mercado de que seguirá evoluindo com soluções cada vez mais avançadas, otimizadas e voltadas para aplicações exigentes e diversificadas”. Apresentando uma boa reflexão de que muitas comparações indevidas podem ter sido feitas e relembrando os estudos de Richard Thaler e Werner De Bondt sobre a reação exagerada dos mercados. Trazemos esse tema para a carta, pois podemos retirar inúmeras lições sobre o mês de janeiro. Desde a importância da diversificação até o controle de nossas emoções em movimentos bruscos nos preços dos ativos. Como recomenda Warren Buffett: sejamos pacientes.


Dessa forma, o mês de janeiro cumpriu a sua função de virada de ano para mudar as perspectivas e visões convictas da maior parcela dos investidores de que os ativos americanos seguiriam uma trajetória de valorização constante. Veja bem, isto ainda pode vir a ocorrer, mas a probabilidade deste cenário reduziu e com isso presenciamos um dólar reduzindo com recursos se espalhando pelo mundo em busca de novas teses que estavam abandonadas. A mensagem é extremamente interessante e vai em linha com uma pauta que tanto insistimos em nossas comunicações: um portfólio amplo e estruturado. Capaz de captar a valorização observada nos últimos anos nas ações americanas, mas também exposto aos ativos brasileiros que tiveram um excelente mês de janeiro. O gatilho óbvio de valorização no Brasil está na eleição de 2026. No entanto, a valorização de janeiro não veio dele. Por isso, adeque sua exposição de risco no tamanho compatível ao seu perfil e mantenha-se exposto a todas as variáveis e cenários. O pseudo cisne negro chinês do mês passado alavancou nossa bolsa. O que mais pode vir?


Concluindo, momentos de volatilidade, estresse e dúvida geram desconfortos e oportunidades únicas. Desequilíbrios e ineficiências de preço que não podemos deixar passar. Contem conosco para conduzir seus investimentos da forma que você merece.

 

CENÁRIO ECONÔMICO E DE MERCADO

 

Para este mês de janeiro pontuamos o início do governo de Donald Trump com incertezas quanto ao comércio internacional e impacto de medidas protetivas que ele venha a instaurar, assim como a volatilidade gerada pelo Deep Seek e questionamentos quanto aos múltiplos e preços da bolsa americana em um cenário com novos desafiantes na corrida da inteligência artificial. No Brasil, as preocupações fiscais persistem, mas recesso parlamentar e a elevação da Selic no primeiro encontro do COPOM melhoraram as expectativas. Adicionalmente, os receios com os Estados Unidos ocasionaram um fluxo positivo para Brasil e respectivamente para o Ibovespa. Reforçamos a mensagem das últimas cartas quanto ao bom momento de construir o portfólio de renda fixa em Brasil e a relevância de uma carteira bem estruturada em um mês que as bolsas americanas caíram e os ativos de risco brasileiros valorizaram.

 

BRASIL

 

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,16% em janeiro, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano de 2024, o IPCA encerrou com alta de 4,83%, acima do teto da meta; e inicia 2025 gerando pressão no Banco Central com a expectativa de repasse cambial em produtos e estimativas de inflação superiores a 6% para este ano. Com essa leitura de janeiro, o IPCA acumula alta de 4,56% em 12 meses.

 

Na primeira reunião de 2025 e sob comando de Gabriel Galípolo, o Conselho de Política Monetária (COPOM) elevou a Selic em 1%, para 13,25%, cumprindo o compromisso sinalizado na última reunião de 2024 e manteve o posicionamento de uma nova elevação na reunião de março.

 

O setor público consolidado registrou em 2024 déficit primário de R$ 47,6 bilhões (0,40% do PIB), ante déficit de R$ 249,1 bilhões (2,28% do PIB) em 2023. Em doze meses, o setor público consolidado acumulou déficit primário de R$ 192,9 bilhões, equivalente a 1,65% do PIB.

 

O resultado nominal do setor público consolidado, que inclui o resultado primário e os juros nominais apropriados, foi deficitário em R$ 998,0 bilhões (8,45% do PIB) em 2024, ante R$ 967,4 bilhões (8,84% do PIB) em 2023. Em dezembro, o déficit nominal atingiu R$ 80,4 bilhões, comparativamente a R$ 193,4 bilhões em dezembro do ano anterior.

 

Conforme salientado anteriormente, enquanto os acontecimentos econômicos internacionais abrem oportunidades para o Brasil, internamente as contas públicas vêm sendo dilaceradas e preocupam cada vez mais os agentes de mercado que demandam juros maiores.

 

 

MUNDO

 

Nos Estados Unidos, o recém eleito Donald Trump tem intensificado discursos contra países que impõem elevadas tarifas aos EUA; e tem prometido revidar a partir da sua posse. O primeiro mês de Trump causou controvérsia e as primeiras medidas tarifárias foram impostas contra Canadá, México e China.

Os preços ao consumidor dos Estados Unidos aumentaram mais do que o esperado em janeiro, reforçando a mensagem do Federal Reserve de que não há pressa em retomar o corte da taxa de juros em meio à crescente incerteza sobre a economia. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,5% no mês passado, depois de alta de 0,4% em dezembro, informou o Departamento do Trabalho.

 

O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos aumentou 0,4% em janeiro em comparação ao mês anterior, revelou o Bureau of Labor Statistics. O indicador veio acima das apostas dos analistas, que esperavam aumento de 0,3% no mês. Já o núcleo do PPI, que exclui os itens mais voláteis como os preços de energia e alimentos, subiu 0,3%, em linha com as expectativas. Na base anual, o núcleo do PPI subiu 3,4%, ante uma alta de 3,3% registrada em dezembro.

 

O mercado de trabalho dos Estados Unidos abriu 143 mil postos de trabalho em janeiro, de acordo com os dados do relatório de emprego conhecido como payroll divulgados pelo Departamento do Trabalho. A expectativa de analistas era de que haveria a criação de 169 mil vagas, de acordo com analistas ouvidos pelo jornal The Wall Street Journal. Eles esperavam ainda que o desemprego ficasse em 4,1%.

 

No entanto, a taxa de desemprego manteve trajetória de queda e reduziu para 4%. Nos últimos oito meses, ela esteve entre 4,1% e 4,2%. O total de pessoas sem emprego é de 6,8 milhões de pessoas.

 

O crescimento do emprego aumentou em novembro, uma recuperação esperada depois que furacões e trabalhadores em greve distorceram fortemente os dados de outubro, mas manteve o ritmo de alta em dezembro, dessa vez surpreendendo negativamente o mercado.

 


 

Agradecemos a leitura, o tempo e a confiança.

 

Pedro De Cesaro              Rodrigo Villa Real       

Founding Partner               Chief Investment Officer          

 

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