Yield Curve
“Performance passada não é garantia de resultados futuros.”
Mantra do mercado financeiro
Já se passaram mais de 12 meses desde que a chamada curva de juros dos títulos do tesouro dos EUA (diferença entre as taxas dos títulos de 10 anos e de 2 anos) se inverteu em julho de 2022. Desde então, nada da recessão americana se confirmar.
Naquele momento, concomitante aos sinais que a inflação começara a desacelerar, os 9,1% do CPI em junho de 2022 marcou o pico do atual ciclo inflacionário, o S&P marcou seu ponto de inflexão nos 3600 pontos e recentemente se aproximou da máxima histórica próximo aos 4600 pts.
Com a economia surpreendendo positivamente, apesar do aperto monetário também mais forte e prolongado do que se esperava inicialmente, tornou-se praticamente consenso que o FED conseguirá reacomodar a inflação de volta nos 2-3% e, em breve, começará a reduzir os juros, evitando um pouso forçado da atividade. Será? Instigamos o debate sobre o tema que impacta todos os ativos globais.
Os indicadores atuais apontam nessa direção, no entanto, cabe destacar que assumir ou considerar provável que isto será possível implica negar uma história em que, desde meados do século passado, a inversão da curva de juros tem sido um importante indicador preditivo de recessão. Desde 1978, a curva de juros inverteu 6 vezes e em cada uma precedeu uma recessão, antecedendo-a, em média, em 15 meses.
Aplicando este horizonte de tempo a cerca de 12 meses atrás, a economia dos EUA poderia entrar em recessão em outubro de 2023. Apesar disso, performance passada não é garantia de resultados futuros, e mesmo fatos passados podem ser enganadores ou merecem contextualização, incorrendo no risco do viés histórico. Por exemplo, a última de vez que a curva de juros se inverteu foi em agosto de 2019, uma curta, porém intensa recessão se sucedeu, mas sob a influência de outros fatores preponderantes que não possuem correlação com a curva em si (Covid-19).
Sob o prisma de alocação, mais importante do que ter certeza se a história se repetirá mais uma vez é entender o que está precificado e onde há assimetria de risco. Ao que parece, uma recessão, hoje fora de consenso, traria impacto relevante aos mercados de risco. A sensação de que o pior já passou e que o FED está tendo êxito em sua missão de controlar a inflação e garantir um pouso suave da atividade hoje é dominante entre os investidores. É difícil, no entanto, acreditar que a manutenção de taxas de juros acima de 5% por um período razoavelmente prolongado e o esgotamento dos efeitos dos estímulos fiscais liberados no pós-pandemia não tenham efeito importante sobre a atividade ao longo dos próximos meses. Todo cuidado é pouco, a performance histórica pode ser um importante indício do que está por vir.
CENÁRIO ECONÔMICO E DE MERCADO
Para este mês pontuamos o início do corte de juros no Brasil, retomada dos ativos de risco brasileiro com performance robusta e inflexão na taxa de juros longa dos EUA. O cenário macro americano segue sendo uma variável complexa e com efeitos globais como destacamos na introdução.
DADOS EUA
Neste processo de desaceleração americana o grau de inflação e emprego segue chamando atenção mensalmente. No último mês tivemos o anúncio do CPI dos EUA subindo 0,2% em junho e reduzindo a inflação anual a 3%, resultado abaixo da mediana dos analistas. Para o mês de julho, o índice de preços ao consumidor (CPI), subiu 0,2% repetindo a alta de junho. Os números eram esperados e foram acompanhados pelo aumento de 0,25% na taxa de juros americana, pelo FOMC. Com isso, os juros de referência norte-americanos subiram para a faixa dos 5,25% a 5,50%. É o maior nível em 22 anos.
BRASIL
No cenário brasileiro, o Ibovespa manteve performance robusta e registrou o seu quarto melhor desempenho do ano em julho, com valorização de 3,27%. Também tivemos o início do ciclo de cortes na Selic. Por 5 votos a 4, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a taxa Selic, juros básicos da economia, em 0,5 ponto percentual, para 13,25%. Este foi o primeiro corte em três anos.
O IBGE divulgou que a inflação oficial do país somou 0,12% em julho. Com isso, o país passa a ter uma inflação acumulada de 3,99% na janela de 12 meses. No ano, acumula alta de 2,99%. A inflação surpreendeu vindo acima das expectativas e temos em julho um duro reajuste previsto nos combustíveis que merece atenção.
Agradecemos a leitura, o tempo e a confiança.
Pedro De Cesaro Rodrigo Villa Real
Founding Partner Economista-chefe
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