Os Ciclos de Mercado
“A história nunca se repete, mas frequentemente rima.”
Mark Twain
Em 13 de agosto de 1979, após quase uma década de desempenho ruim no mercado acionário, a revista Business Week publicou uma matéria intitulada “a morte das ações” - The Death of Equities. O texto foi publicado apenas alguns anos antes do pontapé inicial, em 1982, da maior fase de mercado em alta da história.
Na época em que foi publicado, o S&P 500 estava em 107 pontos, e em março de 2000, chegou a 1527. Uma apreciação de mais de 14 vezes, ou 13,7% ao ano por quase 21 anos (números sem os dividendos, que elevaram o ganho total para mais de 28 vezes e o retorno total anualizado para 17,6%).
Podemos absorver como lição a desconfiança aos ativos populares e assumir o desafio de analisar aquilo que a crença do momento rejeita. Em retrospectiva, as razões por trás das decisões de sucesso são invariavelmente óbvias. O essencial é quando captamos em tempo real que é quanto conta.
Pensando nisto, o renomado investidor Howard Marks dedicou um livro, Dominando o ciclo de mercado, para a análise de eventos e padrões que se repetem no tempo. Howard Marks explica que uma das naturezas dos ciclos é a influência dos indivíduos que aceleram e reforçam as tendências de valorização e desvalorização dos ativos. Existe um fundamento regular e constante, mas o gatilho gerador da inversão de rota não é científico na visão do investidor e autor.
Abordamos o tema para refletir sobre o contexto brasileiro. A combinação de commodities em queda e uma safra recorde no Brasil, levou dois grupos de inflação, alimentação e transportes, a uma desaceleração. Com a inflação convergindo a meta devido aos efeitos globais e da atuação séria do Banco Central, veio a precificação de cortes na Selic e o ciclo virtuoso macroeconômico levou os ativos de risco brasileiros para uma valorização intensa. O Ibovespa subiu 9% somente em junho e virou o semestre performando acima do CDI.
Nossa percepção negativa pode estar demasiadamente influenciada pelo cenário político que nos envolve. Podemos estar na inflexão do ciclo de mercado aos ativos de risco brasileiro?
Dada a complexidade de acertar timming, o recomendado é estar exposto a probabilidade e adequar posição gradativamente.
CENÁRIO ECONÔMICO E DE MERCADO
Para este mês pontuamos o fechamento da curva de juros brasileira e um consenso dos agentes de mercado sobre o início do ciclo de cortes na Selic para a próxima reunião do COPOM, em agosto.
DADOS EUA
No mês de maio, o FOMC confirmou as nossas expectativas e do consenso de mercado, promovendo o que eles nomearam como “pausa estratégica” no ciclo de elevação da Fed Funds Rate (FFR). A pausa se deu no intervalo entre 5,00%-5,25%. A unanimidade dos votos pela manutenção foi a maior surpresa do evento.
O comunicado e as projeções do FOMC ainda mostram um comitê preocupado com o risco inflacionário e, portanto, revelando para a necessidade de mais ajustes de juros à frente, sobretudo após acumularem e consolidarem um volume maior de informações.
Concluímos o mês com as apostas na bolsa de Chicago apontando para uma probabilidade de 95% de aumento em 0,25% na próxima reunião do FOMC.
BRASIL
No cenário econômico, o mês de junho trouxe a inflação de maio abaixo da expectativa de mercado reforçando a tendência de desaceleração. Embora alguns grupos sigam desancorados.
O COPOM manteve a taxa Selic inalterada e dosou o discurso na ata publicada no final do mês. A Ata reforçou o entendimento de início do ciclo de corte de juros em agosto, com um primeiro movimento de 25bps. Para frente, é preciso uma melhora no processo de desinflação dos núcleos para que o grau dos cortes fique mais claros.
No panorama político, destaque para a decisão do TSE que tornou o ex-Presidente, Jair Bolsonaro, inelegível. Acompanhamos no mês de junho todos os desdobramentos da Reforma Tributária que veio a ser aprovada, pelo Congresso, na primeira semana de julho.
Agradecemos a leitura, o tempo e a confiança.
Pedro De Cesaro Rodrigo Villa Real
Founding Partner Economista-chefe
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