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Carta Mensal - Maio de 2023




O rei-filósofo e a arte do possível



“Tirar conclusões precipitadas é eficaz se

houver grande probabilidade de que as

conclusões estejam corretas e se o custo de um ocasional erro for aceitável.”

Daniel Kahneman Prêmio Nobel de Economia



Em A República, Platão, defende que o estado ideal deveria ser governado por um ''rei-filósofo''. Alguém que dominasse a arte política e fosse um líder nato, mas também compreendesse das artes e filosofia. O próprio Platão reconhece em seu livro sobre a impossibilidade de encontrarmos ambas as características em uma única pessoa.


O cenário político brasileiro é evidência desta percepção, os populistas dominam os votos enquanto candidatos preparados não conseguem atingir o cargo máximo de Presidente. Outros pensadores escreveram sobre a política com a clareza de que existe uma tendência a elevar os piores ao poder. Desde Nicolau Maquiavel a Friedrich Hayek.


Sendo a temática tão constante em diversos autores propomos a reflexão sobre a nossa ancoragem de expectativas. A economia comportamental aborda o conceito da teoria da perspectiva. Ela afirma que as escolhas das pessoas são motivadas pelos valores que atribuem a ganhos e perdas, e a predisposição para comprarmos ou vendermos um determinado ativo depende daquilo que os autores nomearam como ponto de referência.


Nosso pessimismo exacerbado com o Brasil seria consequência de termos um ponto de referência irreal? Estaríamos esperando de nosso país um rei-filósofo para a presidência? Havia expectativa de uma escolha técnica para o STF? Uma regra fiscal robusta e austera?


Aparentemente, as falsas expectativas por uma gestão pragmática foram as principais causas de precificação dos ativos brasileiros nos últimos meses. Porém, as commodities foram pressionadas para baixo e estamos diante de uma super safra. As condições produtivas do nosso agro e variáveis globais externas criaram um cenário de desinflação favorável para prováveis cortes de juros em países como Chile e Brasil.


O Brasil parece não ter vocação para um absoluto sucesso. Também não parece ter vocação para o desastre. Aceitar a dependência cíclica de nosso mercado e absorver o entendimento de que a política é a arte do possível, não aliviaria nossas expectativas para um ponto de referência mais honesto? Quais deveriam ser os preços de nossos ativos de risco neste cenário?


Provocamos vocês leitores para essa reflexão e aguardamos comentários para debatermos.



CENÁRIO ECONÔMICO E DE MERCADO


Para este mês pontuamos os dados de atividade econômica e emprego nos EUA como principal indicador na incerteza do mercado para com os juros americanos. Em contraste, o IPCA brasileiro abaixo das expectativas que reaquece a pressão por cortes na Taxa Selic.


DADOS EUA


No mês de maio, o payroll registrou o aumento de 339 mil empregos na economia americana, significativamente acima do esperado pelo consenso de mercado que previa a abertura de 195 mil vagas. É importante notar que o resultado de abril foi revisado de 253 mil para 295 mil, deixando um bimestre (abril-maio) ainda mais forte e reforçando a surpresa na ponta.

Na análise setorial, o destaque se mantém no setor de Serviços, com mil 257 vagas criadas (75% do total), com os subgrupos de Educação e Saúde e Turismo respondendo por 42% da leitura (ou 56% do setor de serviços) como tem ocorrido desde o segundo semestre do ano passado.


A força dos dados de atividade e emprego mantiveram o mercado em debate sobre o futuro dos juros nos EUA. Uma parcela acredita que o FED deve manter o juro e outra defende novos aumentos visto que não teríamos clareza em uma desaceleração.


O mercado de trabalho, em termos de tendência, está menos apertado do que no ano passado, mas num ritmo desfavorável para o cenário de inflação. Com 1,8 vaga aberta para cada desempregado mesmo após um ciclo intenso de aperto monetário, sinaliza um cenário desfavorável para a trajetória de inflação rumo a meta.


Trazemos os dados para conhecimento do leitor, mas destacamos que independente do cenário um fato está claro: não haverá cortes nas próximas reuniões.



BRASIL


Assim como nos EUA o mês de maio foi recheado de dados inflacionários e de atividade industrial no Brasil que acompanham o debate sobre o ciclo de afrouxamento monetário em nosso país. Percebemos que pouco a pouco o mercado brasileiro começou a migrar para uma defesa da redução de juros. Os reajustes de salários em patamares superiores a inflação e uma atividade econômica surpreendente não parecem fazerem tanto preço quanto a convergência do IPCA para o centro da meta.


O IPCA de maio registrou uma taxa de 0,23%, abaixo do mês anterior, acumulando uma alta de 2,95% no ano e 3,94% nos últimos 12 meses. Novamente abaixo da expectativa e derrubando o acumulado de 12 meses para baixo do fatídico grau de 4%.


Com isso, elevou-se a expectativa de que o Banco Central inicie o ciclo de corte dos juros na reunião prevista para os dias 1º e 2 de agosto. A reunião de junho e seu posterior comunicado deverá dar sinais da leitura do COPOM em relação ao cenário.


No entanto, pontuamos que temos nessa base acumulada uma série com três meses deflacionários. Após divulgação da inflação de junho o número deverá encontrar um fundo antes de retomar alta com os meses de julho, agosto e setembro que em 2022 trouxeram números negativos.


Compreendemos o momento oportuno para fixar posições em renda fixa e observar as oportunidades em bolsa brasileira, mas sem desconsiderar a incerteza e dificuldade do COPOM em reduzir juros na reunião de agosto em meio ao início da retomada de alta do acumulado doze meses do IPCA.


Agradecemos a leitura, o tempo e a confiança.


Pedro De Cesaro - Sócio-Fundador

Rodrigo Villa Real - Economista-Chefe


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