Quais os limites do fiscal?
“Haverá saída para o Brasil? Há três: o aeroporto do Galeão, o de Cumbica e o liberalismo.” Roberto Campos
O processo de desinflação global captou toda atenção do mercado e não saiu da pauta ao longo dos últimos anos. Mês a mês a trajetória e monitoramento dos dados das economias roubaram a atenção e com elas vinham as previsões de quando os Estados Unidos, e posteriormente a Europa, iniciariam seus movimentos de flexibilização monetária.
Por consequência, mercados emergentes acompanham e aguardam o início destes ciclos para que possam adentar com maior conforto e intensidades nos seus próprios cortes.
No entanto, o mundo e a economia são mais complexos do que uma simples retórica aparenta. Apesar de dados difusos nos Estados Unidos, temos visto gradativamente uma convergência na atividade econômica e nos dados de inflação. O que torna cada vez mais provável o primeiro corte de juros americano para 2024. Frente a um constante adiamento da flexibilização americana, acompanhamos o bloco europeu tomar a frente e cortar os juros no continente em 0,25%.
Porém, enquanto a Euro Stoxx avança perto de 10% no ano e as bolsas americanas (S&P e Nasdaq) replicam o movimento, por aqui em terras tupiniquins somos surpreendidos por um amplo descolamento dos ativos de risco.
Após ensaiar um abandono das metas fiscais, em novembro de 2023, o governo manteve a narrativa de que o ajuste seria feito e enrolou alguns meses. Enrolou no discurso, pois na prática os recordes de arrecadação serviam para equiparar o constante crescimento de gastos.
A meta fiscal prevista de um superávit primário de 0,5% do PIB sobreviveu a 2023 e ao primeiro trimestre deste ano, mas foi oficialmente abandonada em abril com fortes repercussões nas expectativas de inflação, desancoragem da curva de juros e depreciação sem precedentes dos nossos ativos de risco.
Como bem lembrava Roberto Campos, a única saída para o Brasil é o liberalismo. O nosso descolamento das bolsas de ações globais possui causas externas, mas em grande parte originam-se de causas internas. O grau de risco do país dispara por más escolhas e a baixa propensão de encarar problemas históricos e estruturais.
Depois de meses voláteis, adentramos um momento relevante onde o governo sob pressão deve sinalizar se possui verdadeiramente um comprometimento fiscal. O déficit nominal acumulado é pior do que o visto na pandemia e a trajetória da dívida, de acordo com o FMI, preocupa.
Haverá propensão e vontade política de mudar os rumos que estamos traçando? A resposta dessa pergunta é um drive relevante para a economia brasileira e nossos ativos, a curto e médio prazo. No entanto, o sentimento de abandono e desistência do apetite por risco no mercado costuma ser um indicador favorável que demanda atenção.
Concluindo, estamos sempre à disposição para auxiliar e debater acerca das provocações e reflexões contidas nestas cartas. Contem conosco!
CENÁRIO ECONÔMICO E DE MERCADO
Para este mês de maio pontuamos o aprofundamento da deterioração fiscal brasileira que tem impactado na desancoragem das expectativas de inflação; e posterior desvalorizações em títulos de renda fixa e ações.
BRASIL
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio foi de 0,46%. Acima das expectativas de mercado. Nos cinco primeiros meses de 2024, a inflação acumulada é de 2,27%. O índice é menor que o acumulado no mesmo período do ano passado, quando atingiu 2,95%. Nos últimos 12 meses, ou seja, entre maio de 2023 e maio deste ano, o acumulado é de 3,93%, bem próximo de igual período do ano passado, quando bateu em 3,94%.
O resultado nominal do setor público consolidado, que inclui o resultado primário e os juros nominais apropriados, foi deficitário em R$ 69,6 bilhões em abril. No acumulado em doze meses, o déficit nominal alcançou R$ 1.042,8 bilhões (9,41% do PIB), ante déficit nominal de R$ 998,6 bilhões (9,06% do PIB) em março de 2024.
O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) subiu 0,01% em abril e demonstra estagnação. O resultado para o mês veio abaixo das expectativas do mercado, que esperavam uma expansão de 0,45% em abril. Na comparação com o mês anterior, o IBC-Br voltou a apresentar uma alta. Em março, o índice havia registrado uma retração de −0,36%.
MUNDO
A inflação do consumidor nos Estados Unidos ficou estável em 0,0% após subir 0,3% em abril, abaixo do esperado. Com isso, a taxa anual reduziu para 3,3% e demonstra sinais de convergência.
O índice de preços ao produtor (PPI) para a demanda final caiu 0,2% no mês de maio, após avançar 0,5% em abril. Economistas consultados pela Reuters previam alta de 0,1%.
O cenário inflacionário americano segue incerto e continua no foco global, mas começa a dar sinais positivos que podem suavizar a volatilidade internacional. Sendo assim, a resolução dos problemas e conflitos internos brasileiros pode passar a ter mais impacto.
Na Argentina, o megaprojeto de lei proposto por Javier Milei foi aprovado no Senado após longa tramitação e intensos debates. A votação chegou a um empate de 36 a 36 votos e a vice, Victoria Villaruel, concedeu o voto definitivo para aprovação do importante projeto. A proposta visa uma profunda liberalização e flexibilização da economia argentina.
O Banco Central Europeu (BCE) iniciou o processo de flexibilização monetária na zona do euro ao cortar os juros em 0,25 ponto percentual, numa decisão amplamente esperada pelos investidores e que marcou a primeira redução das taxas europeias desde 2019. Com isso, a taxa de juros no continente europeu fora reduzida para 4,25%.
Agradecemos a leitura, o tempo e a confiança.
Pedro De Cesaro Rodrigo Villa Real
Founding Partner Economista-chefe
Excelente e honesta informação. gratos