Inflação como delito
“Grande parte da política contemporânea baseia-se na presunção de que os governos têm o poder de criar e fazer com que as pessoas aceitem qualquer quantidade de dinheiro adicional.”
Friedrich von Hayek
A inflação é um fenômeno que prejudica os indivíduos há séculos e capturou o debate econômico nos anos posteriores a pandemia. A narrativa aponta para uma elevação de preços sem precedentes pelos problemas nas cadeias produtivas, em decorrência dos lockdowns nos variados países.
Por outro lado, ao estudarmos seriamente a economia, compreendemos que como disse Milton Friedman: “a inflação é sempre e em toda parte um fenômeno monetário”. Se a pandemia proporcionou desajustes nas cadeias produtivas, ela também proporcionou uma injeção monetária sem precedentes na história por todos os governos, sem exceção.
A elevada expansão da base monetária, tendência que vinha ocorrendo desde o subprime, e que era tratada por uma nova corrente econômica como possível de se fazer sem riscos inflacionários, provou-se como um remédio amargo.
Os preços saíram do controle em todos os países, sem exceção. Setores e economias não acostumados com tais elevações se viram com problemas. Os Estados Unidos presenciaram de janeiro de 2020 até março deste ano, um aumento histórico de 23,98%.
No entanto, mesmo cientes dos seus prejuízos a população não conseguimos a eliminar e alguns governos extrapolam na sua expansão monetária como mecanismo de arrecadação ao custo do seu povo.
Sendo assim, como a causa é conhecida, o professor Ricardo Rojas propõe em seu livro, que nomeia essa Carta, que os responsáveis pelo excedente de moeda sejam penalizados. Na visão de Rojas somente a criminalização da emissão de moeda pode proteger os indivíduos de maus gestores públicos. A proposta provocativa cumpre sua função ao nos levar para uma revisão profunda dos ciclos econômicos e causas dos descontroles inflacionários que vivemos.
Como apontado anteriormente, o FED dobrou a base monetária na crise do subprime e os diversos quantitative easing deram continuidade ao longo dos anos na injeção financeira e manutenção de juros artificiais. Em algum momento, as consequências viriam à tona.
O economista austríaco Ludwig von Mises alegava que as maiores distorções econômicas nascem na intervenção dos governos ao tentarem resolver determinado problema. Com isso, o tornam maior a médio e longo prazo, pois a expansão monetária em imediato proporciona sensação de progresso e melhoria das condições econômicas.
Por isso, a inflação é uma armadilha da qual é difícil escapar e geralmente termina em crises profundas como a que acompanhamos. Não em vão, as expectativas do mercado foram constantemente superadas por uma atividade econômica pujante e os juros altos permaneceram neste patamar por mais tempo.
Como bem ensina Rojas no livro: analisar a teoria de preços nos ajuda a compreender como o mundo funciona. O preço nos informa o que as pessoas querem ou não consumir, adquirir e vivenciar.
Os fatos narrados e os pensamentos citados são uma auto reflexão de que é natural que os ativos de risco valorizem nessa intensidade, dado que as empresas são hedge a inflação, e que os juros permaneçam alto frente a uma inflação que resiste em ceder. O risco verdadeiro está em não investir adequadamente e sofrer perdas reais de patrimônio.
Estamos sempre à disposição para auxiliar nessa longa trajetória de preservação e acumulação de capital.
CENÁRIO ECONÔMICO E DE MERCADO
Para este mês de março destacamos o descolamento dos ativos de risco brasileiros para o resto do mundo. Enquanto bolsas americanas carregam performance positiva no primeiro trimestre do ano, o Ibovespa se desvaloriza acentuadamente. Para além disto, enxergamos a manutenção das oportunidades em risco e renda fixa com a redução das taxas de juros.
BRASIL
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo O IPCA de março apresentou alta de 0,16%, mostrando importante desaceleração frente ao dado de fevereiro (0,83%) e abaixo do consenso (0,25%).
No ano, o IPCA acumula alta de 1,42% e, nos últimos 12 meses, de 3,93%, abaixo dos 4,50% observados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em março de 2023, a variação havia sido de 0,71%.
O Brasil teve déficit em transações correntes de 4,373 bilhões de dólares em fevereiro, com o déficit acumulado em 12 meses totalizando o equivalente a 1,11% do Produto Interno Bruto, informou o Banco Central. O resultado veio pior do que a expectativa do mercado, conforme pesquisa da Reuters com especialistas, que apontava para um saldo negativo de 3,55 bilhões de dólares em fevereiro.
MUNDO
A inflação do consumidor nos Estados Unidos foi de 0,40% em março. Núcleo da inflação teve alta mensal em março igual a de fevereiro, enquanto o avanço anual nessa leitura foi de 3,8%. O número veio novamente acima das expectativas e vai manter o Federal Reserve em alerta.
Por outro lado, a inflação ao produtor (PPI) nos Estados Unidos, desacelerou para 0,20% em março, vindo abaixo do projetado pelo mercado. Inflação “na porta da fábrica” cresceu 2,1% nos 12 meses encerrados em março, o maior avanço desde e registrado em abril de 2023; consenso de analistas previa inflação mensal de 0,3% e alta de 2,2% em 12 meses.
O cenário inflacionário americano segue incerto, como bem apontamos na abertura desta carta, e deve continuar no centro das atenções globais.
Na Argentina, os resultados dos cortes de despesas pelo governo já começaram a surtir efeito ao registrar o segundo superávit primário consecutivo. No entanto, apesar dos elogios do FMI para a gestão, o cenário segue conturbado. A inflação da Argentina subiu 13,2% em fevereiro, informou o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec) do país. Com o resultado, o índice chegou a 276,2% em 12 meses.
Agradecemos a leitura, o tempo e a confiança.
Pedro De Cesaro Rodrigo Villa Real
Founding Partner Economista-chefe
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