Carta Mensal - Março de 2025
- Propósito Capital
- 16 de abr.
- 7 min de leitura
Trump 2.0: Reagan ou Hoover?

“Com os preços altos por tarifas, a ineficiência e a má gestão, o pior acontece: as pessoas param de comprar, mercados diminuem e colapsam, negócios e indústrias fecham e milhões perdem o emprego.” Ronald Reagan
Em nossa última carta mensal abordamos o tema que tem sido o fator de incerteza, volatilidade e transição de capital entre as bolsas e ativos globais. Nesse contexto, as tarifas comerciais americanas e o vigor com que a nova gestão Trump tem negociado estenderam as incertezas para o mês de março e acentuaram as quedas nas bolsas americanas.
Anteriormente, exploramos as diversas hipóteses que circulam a medida e percebemos ao longo do último mês mudanças relevantes nas expectativas de mercado. As previsões de inflação vinham caindo gradualmente e agora é consenso que o dado deve manter-se alto por mais tempo. Por outro lado, esperava-se um corte de juros pelo FED no ano e atualmente temos no mínimo três de expectativa. Tais variáveis possuem um impacto considerável no déficit fiscal americano e ativos ao redor do mundo.
Ademais, o repercutido dia da libertação e a tabela de tarifas anunciada por Donald Trump causou desconforto e dúvidas na teoria de que as tarifas aos demais países eram um meio em busca da reciprocidade. Os percentuais de tarifas anunciados estão sustentados pelo déficit de balança comercial dos Estados Unidos com o determinado país ao invés de um equilíbrio entre tarifas. A teoria de reciprocidade pressupõe que você iguale a tarifa para que posteriormente facilite a condição em que ambos reduzem simultaneamente. Afinal, déficit de balança comercial pode ser explicado por outros fatores que não estão interligados a escolhas políticas e comerciais.
Sendo assim, a tabela anunciada apontou em direção contrária a principal teoria e gerou maior incerteza e desconforto nos mercados, elevando as perdas nos ativos de risco. Frente a este cenário, nos fazemos a provocação de qual versão presidencial o segundo mandato de Donald Trump pretende se parecer. A resposta do exercício é de suma importância para as perspectivas de médio prazo para os ativos de risco americanos, europeus e dos emergentes.
O mundo em 1930 era muito diferente da realidade atual, em 2025, mas as soluções propostas por Donald Trump para enfrentar o desafio da economia americana se assemelham as implementada por Herbert Hoover, durante seu mandato de 1929-1933. A gestão de Herbert Hoover precisou superar a Grande Depressão americana causada pela quebra da bolsa de New York, em 1929. Um mundo menos conectado e tecnológico. Um mundo que havia superado uma guerra mundial e tentava voltar a crescer.
Em meio a tais dificuldades, Hoover promoveu uma das decisões mais marcantes e desastrosas de sua presidência ao assinar a lei tarifária Smoot-Hawley, em 1930, que aumentou significativamente as tarifas sobre produtos importados. Os objetivos do Presidente era proteger a indústria e agricultura do país; e acabou na prática provocando retaliações de outros países. O resultado? Uma drástica redução do comércio global que piorou a crise mundial e aprofundou a recessão. Os problemas que o protecionismo pode criar são a principal lição daquele período.
O mundo entraria novamente em guerra e posteriormente enfrentaria um contraste de visão de sociedade na guerra fria. O prevalecimento dos valores e crenças liberais, representados por Ronald Reagan e Margaret Thatcher, produziria nos países um amplo período de desenvolvimento e riqueza. Não obstante, também representaria um extenso momento de paz e estabilidade geopolítica que simbolizam a Pax Americana.
Se Herbert Hoover viu nas barreiras e muros a solução para seus problemas. Décadas depois caberia a Ronald Reagan ser o símbolo da abertura comercial. Em uma clássica citação, que a embaixada chinesa publicou no seu perfil do X, Reagan alega que em um primeiro momento, ações de impor tarifas parecem "patrióticas e que pensam em proteger produtos e trabalhos americanos", mas acabam na verdade prejudicando e ele alertou que "em um curto período de tempo, isso funciona. Mas apenas por um curto período. O que ocorre é: primeiro, as indústrias nacionais começam a confiar na proteção governamental com as tarifas, começam a parar de competir e inovar e mudar tecnologicamente para ter sucesso no mercado global". Ronald Reagan era enfático ao destacar os vícios que a política exerce e os prejuízos a longo prazo.
O país que produziu as maiores empresas do mundo e resultou no excepcionalismo americano vivenciado na última década, é fruto de competição e liberdade econômica. Não o oposto. A visão positiva com Estados Unidos é refletida excessivamente nos portfólios globais, conforme apontou a Vista Capital em sua carta mensal:
“Isto se reflete, por exemplo, no fato de que os EUA representam quase 70% do índice MSCI World e que as bolsas dos EUA (NYSE + Nasdaq) representam cerca de 60% da capitalização de mercado global, muito acima de qualquer outra região”.
Portanto, não é em vão a depreciação observada no primeiro trimestre do ano e revertida parcialmente em abril após suspensão das tarifas. Com as incertezas surgem os questionamentos sobre a direção e conclusão dos debates. Veremos uma diminuição do déficit público americano? O FED irá reduzir os juros em ritmo mais acelerado do que o esperado e contribuir para esse risco? Ou a tendência é fechamento de comércio, transações custosas e uma recessão? Trump 2.0 sonha ser um Ronald Reagan ou Herbert Hoover?
Repetimos a frase da última carta de que nem todas as perguntas possuem respostas simples e diretas. Porém, atualmente, nossa visão está mais próxima do entendimento de que a desaceleração americana não implicaria em uma recessão e que os desafios ainda não ameaçam o status de império americano. Especular o declínio dos Estados Unidos implica no declínio das maiores empresas do mundo. A imagem abaixo exemplifica o pensamento:
Portanto, voltamos ao tópico tão debatido no último ano acerca de uma recessão ou não nos Estados Unidos. A pergunta responderia se o cenário favorável para bolsas europeias e emergentes vivenciado no primeiro trimestre se perpetuaria. Temos visto dados de atividade vindo abaixo do esperado e reforçando a tese de desaceleração. Porém, em nossa visão, essa desaceleração vai na direção de um pouso suave dado que outros fatores como saúde financeira das famílias e mercado de trabalho ainda resiliente apontem para uma estabilização. Mesmo em caso de reversão do mercado de trabalho e perdas de empregos, ainda seria suportado com resiliência visto que o nível de poupança das famílias está acima de 2019 em quase todos os segmentos sociais. Caso esse cenário ocorra e a gestão Trump 2.0 caminhe na direção Ronald Reagan, veríamos volatilidade a curto prazo nas bolsas americanas e viés positivo a médio prazo novamente. Por outro lado, o Brasil que se beneficia a curto prazo manteria a tendência positiva que cresce na medida que se aproxima da eleição.
Estamos à disposição para debater os tópicos aqui tratados e outros que lhe interessem. Contem conosco para conduzir seus investimentos da forma que você merece.
CENÁRIO ECONÔMICO E DE MERCADO
Para este mês de março pontuamos a intensificação das medidas tarifárias e incoerências de propostas da nova gestão que levaram para a uma queda de maior intensidade nas ações americanas. Apesar da pausa ocorrida em abril, a incerteza persiste no cenário global. No Brasil, temos visto uma janela de oportunidade se abrindo na medida que novos recursos são destinados a mercados emergentes.
BRASIL
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,56% em março, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O dado veio acima das expectativas e foi puxado novamente pelo grupo de alimentação que esteve em 1,31%. No ano de 2025, o IPCA acumula alta de 2,04% e, nos últimos doze meses, o índice ficou em 5,48%, acima do teto da meta.
Na segunda reunião de 2025 e sob comando de Gabriel Galípolo, o Conselho de Política Monetária (COPOM) elevou novamente a Selic em 1%, para 14,25%, cumprindo o compromisso sinalizado na última reunião de 2024. O comunicado do comitê apontou novas elevações a curto prazo, mas em menor intensidade.
O resultado primário do setor público consolidado foi deficitário em R$ 19 bilhões em fevereiro de 2025. O Governo Central registrou déficit de R$ 28,5 bilhões, e os governos regionais e as empresas estatais, superávits respectivos de R$ 9,2 bilhões e de R$ 299 milhões. Em doze meses, o setor público consolidado acumula déficit de R$ 15,9 bilhões, equivalente a 0,13% do PIB e 0,25 p.p. do PIB inferior ao déficit acumulado até janeiro.
O resultado nominal do setor público consolidado, que inclui o resultado primário e os juros nominais apropriados, foi deficitário em R$ 97,2 bilhões em fevereiro. No acumulado em doze meses, o déficit nominal alcançou R$ 939,8 bilhões (7,91% do PIB), ante déficit nominal de R$ 956,5 bilhões (8,10% do PIB) em janeiro de 2025.
Conforme salientado ao longo das últimas cartas mensais, enquanto os acontecimentos econômicos internacionais abrem oportunidades para o Brasil, internamente as contas públicas vêm sendo dilaceradas e preocupam cada vez mais os agentes de mercado que demandam juros maiores.
MUNDO
No cenário global, foco na guerra comercial entre os países que passam a retaliar e negociar com os Estados Unidos após a imposição de tarifas mínimas as mais diversas nações.
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos Estados Unidos apresentou uma queda no mês de março e trouxe a inflação anual para 2,4%. O dado veio abaixo do que a maioria dos analistas esperava. No entanto, as previsões de inflação foram revisadas para cima em um cenário em que as tarifas entrem em vigor e elevem custos ao redor do mundo.
O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos caiu 0,4% em março ante fevereiro, segundo pesquisa divulgada pelo Departamento do Trabalho do país. Na comparação anual, o PPI avançou 2,7% em março. Analistas do mercado projetavam alta mensal de 0,2% e acréscimo anual de 3,3% em março.
O mercado de trabalho americano deu novos sinais de força em março, mostrou o payroll divulgado pelo Departamento de Trabalho dos Estados Unidos. Foram criados 228 mil vagas no mês, superando com folga as previsões de analistas, que esperavam um aumento de 137 mil postos.
Além do avanço na criação de vagas, os salários também cresceram: o ganho médio por hora chegou a US$ 36, com alta de 0,3% em relação a fevereiro e de 3,8% na comparação anual.
Por outro lado, a taxa de desemprego subiu de 4,1% para 4,2%.
Agradecemos a leitura, o tempo e a confiança.
Pedro De Cesaro Rodrigo Villa Real
Founding Partner Chief Investment Officer
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