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Carta Mensal - Novembro de 2024

Quem paga a conta?



“Se colocarem o governo para administrar o deserto do Saara, em cinco anos faltará areia.”

Milton Friedman

 

Há um ano, escrevemos que no Brasil as diversas pressões sociais e setoriais cobram uma expansão de gasto público recorrente – e essa conta é cara. Em nossa história convivemos por décadas com um descontrole monetário e fiscal. O Plano Real que comemora 30 anos, foi lançado no primeiro semestre de 1994, e implementou uma série de medidas que conseguiram estabilizar a economia brasileira; e colocar fim a hiperinflação que nos assolava desde 1980.


Com a mesma moeda há trinta anos, superamos a hiperinflação, mas convivemos com uma inflação silenciosa que corrói nosso poder de compra e nos tirou 87% de nosso valor desde 1994. Uma nota de R$ 100 de 1994 valeria apenas R$ 12,38 hoje. Esse é um dos argumentos destacados em duas cartas anteriores sobre a relevância da dolarização dos nossos patrimônios.


Porém, o foco deste texto é olhar para nossos problemas fiscais. A incapacidade de produzir superávits é a causa da nossa expansão monetária e da perda de valor do nosso dinheiro. Esse imposto silencioso, chamado de inflação, atinge todos os indivíduos que não possuem poupança e repassa a conta da irresponsabilidade do governo.


Trazemos à tona o tema para recordar que ao ser aprovado o teto de gastos em 2016, tentamos como sociedade reverter a lógica do gasto público. Colocando um limite às “benesses” políticas feitas com o dinheiro dos outros. Infelizmente, o teto de gastos teve vida curta, e, com seu fim ainda em 2022, durante o governo de transição, retornamos à lógica da irresponsabilidade nas contas públicas.


Tal retrospectiva nos traz para o atual déficit fiscal incontrolável e uma pressão da sociedade – embora alguns acusem o mercado – para a contenção desse rombo. O governo vem empurrando a pauta ao longo de 2023 e 2024; e o mês de novembro marcou o final dessa novela.


Depois de algumas semanas adiando o pacote fiscal, o anúncio saiu oficialmente nos últimos dias do mês e o resultado foi desastroso. A contenção de gastos foi estimada, segundo a equipe econômica, em R$ 70 bilhões em dois anos (R$ 30 bilhões em 2025 e R$ 40 bilhões em 2026), sendo detalhada em uma coletiva de imprensa pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad; do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet; e da Casa Civil, Rui Costa.

No entanto, o anúncio singelo de corte de gastos veio acompanhado da promessa de campanha de elevação da isenção da tabela de imposto de renda para R$ 5 mil. Para além do impacto econômico e da possibilidade das medidas se anularem, o ponto central reside no fato de que o governo não demonstra interesse e propensão em reduzir seus gastos, conter a farra fiscal e interromper uma trajetória explosiva de dívida/PIB.


A conclusão de que estamos à deriva produziu uma reação imediata e intensa em todos os ativos brasileiros. A curva de juros aponta uma Selic terminal 2% superior a anterior; as expectativas de inflação para 2025 e 2026 subiram; a bolsa brasileira teve ampla desvalorização; e o dólar atingiu seu preço nominal recorde.


Ao que tudo indica, a gestão Lula III é uma extensão de Dilma II. Com dados de atividade demonstrando desaceleração e uma taxa de juros maior, o cenário base atual aponta para um 2025 desafiador. As coisas podem piorar antes de melhorar.


Portanto, nos fazemos a pergunta que a mídia deveria ecoar: quem paga a conta? Enquanto a atenção fica voltada para críticas aos investidores que fogem do real visando preservar suas poupanças de uma vida, o destaque deveria estar para o questionamento de que a irresponsabilidade do governo decai justamente naquele que ele alega proteger. Com expectativas desancoradas, dólar elevado e preços em alta, não resta dúvidas de que os maiores prejudicados são aqueles que verão seus salários serem corroídos por mais inflação e menos oportunidades.


Concluindo, o momento é de estresse e volatidade, mas também de desequilíbrios que não podemos deixar passar. Contem conosco para conduzir seus investimentos da forma que você merece.

 

CENÁRIO ECONÔMICO E DE MERCADO

 

Para este mês de novembro pontuamos o crescimento nos dados de emprego dos Estados Unidos, monitoramento das possíveis medidas a serem implementadas por Donald Trump e uma plena desancoragem da economia brasileira após o anúncio de pacote fiscal, ou ausência dele, pelo governo. A deterioração fiscal brasileira agora é acompanhada de um entendimento de que o governo não pretende agir e corrigir a rota atual, o que levou para uma intensa desvalorização dos ativos de riscos, elevação nas estimativas de inflação e da curva de juros.

 

BRASIL

 

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,39% em novembro, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano, o IPCA acumula alta de 4,29% e, nos últimos 12 meses, de 4,87%, acima do teto da meta.

 

O setor público consolidado registrou superávit primário de R$36,9 bilhões em outubro, ante superávit de R$14,8 bilhões no mesmo mês de 2023.

 

O resultado nominal do setor público consolidado, que inclui o resultado primário e os juros nominais apropriados, foi deficitário em R$ 74,7 bilhões em outubro. No acumulado em doze meses, o déficit nominal alcançou R$1.092,8 trilhão (9,52% do PIB), ante déficit nominal de R$1.065,3 trilhão (9,33% do PIB) acumulado até setembro de 2024.

 

Conforme salientado anteriormente, enquanto os acontecimentos econômicos internacionais abrem oportunidades para o Brasil, internamente as contas públicas vêm sendo dilaceradas e preocupam cada vez mais os agentes de mercado que demandam juros maiores.

 

 

MUNDO

 

A Argentina ganhou destaque nos noticiários com a publicação de resultados que marcam a transição de uma gestão historicamente deficitária para uma nova realidade econômica no país. Pela primeira vez em 123 anos, o país não tem déficit fiscal. A gestão de Javier Milei tem acumulado superávits sucessivamente ao longo dos trimestres e vem reduzindo a inflação mensal de dois dígitos para os recentes 2,4% em novembro. Com isso, a Argentina registrou a menor inflação mensal em quatro anos e reverteu um quadro de recessão para um crescimento de 3,9% do PIB no terceiro trimestre de 2024.

Nos Estados Unidos, o recém eleito Donald Trump tem intensificado discursos contra países que impõem elevadas tarifas aos EUA; e tem prometido revidar a partir do próximo ano.

O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos Estados Unidos apresentou uma alta de 0,31%, em linha com o esperado. O núcleo do CPI, que exclui alimentos e energia, subiu +0,31%, também em linha com as expectativas.

 

O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos aumentou 0,4% em novembro em comparação ao mês anterior, revelou o Bureau of Labor Statistics. O índice de demanda final não ajustado para os 12 meses encerrados em novembro aumentou 3%, marcando o maior aumento desde fevereiro de 2023.


O crescimento do emprego aumentou em novembro, uma recuperação esperada depois que furacões e trabalhadores em greve distorceram fortemente os dados de outubro.

 

A economia dos EUA criou 227 mil empregos no mês passado, à medida que funcionários em greve e paralisados ​​pelo clima voltaram ao trabalho e impulsionaram um fluxo constante de ganhos de emprego, de acordo com dados do Bureau of Labor Statistics. A taxa de desemprego subiu de 4,1% para 4,2%.


 

Agradecemos a leitura, o tempo e a confiança.

 

Pedro De Cesaro              Rodrigo Villa Real       

Founding Partner               Chief Investment Officer          

          

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