Local ou global?
“Earnings don’t move the overall market;it’s the Federal Reserve Board.”
Stanley Druckenmiller
Recentemente escrevemos sobre a guinada dos bancos centrais na redução das suas taxas de juros ao redor do mundo. Esse cenário de maior liquidez depois de um longo período restritivo pode significar maior otimismo em tempos de turbulência e instabilidade geopolítica. O cenário global desponta de forma positiva para as próximas janelas de tempo e, diga-se de passagem, entregou bons resultados em meio a restrição do período que se encerra.
Frente a isto, o mês de outubro foi marcado por uma intensa volatilidade eleitoral americana. Com os dois candidatos empatados nas mais variadas pesquisas e constantemente subindo ou descendo, tivemos um outubro caracterizado pelas expressões Trump Trade ou Kamala Trade. O notório investidor, Stanley Druckenmiller, costumava dizer que fazer previsões era a fórmula do fracasso, por isso, concordamos que essa volatilidade não era pertinente e com o desfecho eleitoral na primeira semana de novembro fechamos o capítulo. Trump venceu de maneira consistente e a atenção volta para o monetário. A inflação vai ceder? Os juros continuam caindo? Acreditamos em dois sim para as perguntas.
Portanto, os ventos do global são bons, mas relembramos também as cartas anteriores sobre as tempestades locais que temos enfrentado. O déficit fiscal brasileiro parece não ter solução e não possuir vontade política de resolução. Neste mês de outubro e setembro, as curvas abriram e o mercado sinalizou um abandono do país. Ao que parece, estamos precificados no momento como um país que vai seguir a rotina deficitária, não conseguir descer sua taxa de juros, maior custo ao financiamento público e presenciar um grau mais elevado de inflação.
Trazemos as reflexões para abordar essa dicotomia entre investir localmente ou globalmente. Defendemos sempre ambas as posições aos nossos clientes para a diversificação de portfólio não se restringir aos ativos; mas principalmente as moedas e cenários que estão inseridos. Enquanto as bolsas americanas vivem um otimismo eleitoral, o Brasil vê seus títulos de renda fixa abrirem as taxas e os ativos de risco encolherem mais ainda. A citação central dessa carta, do Druckenmiller, trata de um ciclo antigo, mas poderia ser sobre o atual: "Os lucros não movem o mercado como um todo; é o Federal Reserve Board que o faz”. A manutenção do ciclo de cortes é positivo para bolsas e para emergentes. Basta resolvermos nossos problemas.
Enquanto o Brasil não desamarra os pés e avança, destacamos a necessidade de possuirmos ativos descorrelacionados e defensivos na carteira. Como dito em cartas anteriores, a bolsa brasileira está em patamares históricos de preço e não pode ser ignorada, por outro lado, esse risco deve ser seguido de uma proteção do resto dos ativos. Afinal, manter uma parcela dos investimentos em dólar é manter poder de compra em cenários de desvalorização cambial ou crises econômicas internas. A alocação reduz a dependência do cenário econômico doméstico, protegendo seu patrimônio contra flutuações e incertezas locais. Além disso, essa diversificação permite o acesso a mercados globais, aumentando o potencial de retorno e oferecendo um hedge contra a volatilidade que muitas vezes afeta moedas e ativos de países emergentes.
Em síntese, a carta deste mês é uma breve reflexão e lembrete de que a melhor forma de encontrar a consistência que as posições em ações brasileiras nos exigem neste momento, passam pela boa alocação e diversificação em ativos descorrelacionados e que nos entreguem retorno enquanto o fluxo não vem ao Brasil e seus ativos de risco.
Concluindo, estamos sempre à disposição para auxiliar no que for necessário. Contem conosco para conduzir seus investimentos da forma que você merece.
CENÁRIO ECONÔMICO E DE MERCADO
Para este mês de outubro pontuamos a volatilidade internacional com conflitos geopolíticos e reta final de eleição com alternância dos candidatos nas pesquisas eleitorais. Adicionalmente, por aqui, o movimento foi mais intenso devido a manutenção da deterioração fiscal e novos dados de inflação excedendo o teto da meta.
BRASIL
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro foi de 0,56% e ficou 0,12 ponto percentual acima da taxa de setembro (0,44%). No ano, o IPCA acumula alta de 3,88% e, nos últimos 12 meses, de 4,76%, acima dos 4,42% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.
O setor público consolidado registrou déficit primário de R$ 7,3 bilhões em setembro, ante déficit de R$18,1 bilhões no mesmo mês de 2023.
No acumulado em doze meses, o déficit nominal alcançou R$ 1.065,3 trilhão (9,34% do PIB), ante déficit nominal de R$ 1.111,3 bilhões (9,81% do PIB) acumulado até agosto de 2024. As estatais brasileiras projetam um rombo de R$ 7,2 bilhões em 2024, o maior déficit em 22 anos. Esse número é preocupante, pois marca uma reversão em relação aos superávits recentes (R$ 94 bilhões observado em 2021).
Conforme salientado anteriormente, enquanto os acontecimentos econômicos internacionais abrem oportunidades para o Brasil, internamente as contas públicas vêm sendo dilaceradas e preocupam cada vez mais os agentes de mercado que demandam juros maiores.
MUNDO
Donald Trump foi novamente eleito presidente dos Estados Unidos. E não só isso: o Partido Republicano obteve a maioria nas duas Casas legislativas, o que pode auxiliar o novo inquilino da Casa Branca a aprovar as suas promessas de campanha. A vitória foi representativa e devemos presenciar um mandato que iniciará com força.
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos Estados Unidos subiu 0,2% em outubro ante setembro, mantendo assim a variação do mês anterior. Em 12 meses, a inflação elevou-se para 2,6%. O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos subiu 0,2% em outubro ante setembro, segundo pesquisa divulgada pelo Departamento do Trabalho do país.
Os Estados Unidos criaram apenas 12 mil vagas de trabalho fora do setor agrícola no mês de outubro, bem abaixo do esperado pelos analistas, segundo dados do relatório de emprego conhecido como payroll e divulgados pelo Departamento do Trabalho. A expectativa da pesquisa da Reuters era de que economia norte-americana abrisse 113 mil vagas de emprego fora do setor agrícola no mês passado, depois de 254 mil em setembro.
Como comentamos no mês passado, a inflação americana tem sido resiliente e reduzido devagar. Porém, o movimento de corte de juros pelo FED não iria ser interrompido, embora reduzido para a intensidade de 0,25% como presenciado. Reforçamos que esse movimento deve permanecer.
Agradecemos a leitura, o tempo e a confiança.
Pedro De Cesaro Rodrigo Villa Real
Founding Partner Chief Investment Officer
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