Argentina e o ponto da virada
“Se você quer ter sucesso em investimentos, comece cedo, se esforce ao máximo e continue fazendo isso. Todo sucesso vem dessa maneira." Charlie Munger
A Argentina possui hoje a sua maior taxa anualizada de inflação em 32 anos. A inflação acumulada em 12 meses de 142,7% é também a maior entre os países do G20. Não obstante, o país está com 133% de taxa de juros e a pobreza atinge mais de 40% da população, segundo dados do governo.
A situação ao qual nosso vizinho chegou não acontece subitamente, ela decorre de uma destruição de valor e moral gradual ao longo de décadas. O país transitou do maior PIB per capita do mundo em 1986 para uma economia completamente dependente do governo e setor público.
Na época de ouro, um argentino era em média 29% mais rico que um francês, 14% mais rico que um alemão, 3 vezes mais rico que um japonês e 5 vezes mais rico que um brasileiro. O primeiro metrô da América Latina foi inaugurado em Buenos Aires há 110 anos, em 1913. Para fins de comparação, o metrô de São Paulo seria construído somente 55 anos depois.
Em meio a este cenário, um desafiante político com discurso divergente daquele repetido por anos na Argentina conquistou atenção dos jovens e do mundo. A campanha meteórica de Javier Milei é um caso de sucesso que sintetiza a insatisfação do povo com as ideias que levaram uma nação rica a pobreza. No entanto, assim como o declínio não ocorreu instantaneamente, o crescimento de Milei também não.
No livro O ponto da virada, de Malcolm Gladwell, relata-se que ao contrário do que o senso comum acredita as grandes mudanças decorrem de pequenas ações que desencadeiam uma epidemia. Qual o gatilho da virada? Como ele se sucede e de onde surge? No primeiro capítulo o autor aborda as três regras para a epidemia e com alguns exemplos alega que existem três agentes de mudança: Regra dos Eleitos, o Fator de fixação e o poder de contexto.
A Regra dos eleitos diz que uma pequena porção de pessoas impacta toda a rede através de seus contatos sociais, da sua energia e do seu entusiasmo. Poucos fazem a diferença.
O Fator de fixação diz que há maneiras específicas de fazer com que uma mensagem contagiante se torne inesquecível e o poder de contexto afirma que os seres humanos são muito mais sensíveis ao seu ambiente do que pode parecer.
O novo Presidente argentino é uma composição dos três fatores estudados na obra. Milei é um expoente que impacta com sua energia as pessoas ao seu entorno; conseguiu sintetizar e organizar as ideias da liberdade e mercado de forma simples e popular; e beneficia-se de um poder de contexto poderoso que é o ambiente arrasado na Argentina. Analisando o livro de Malcolm Gladwell e como Milei cumpre todos os requisitos, fica evidente que não é uma surpresa o seu sucesso. O libertário conseguiu produzir conceitos e mensagens que se fixaram no ideário popular.
A lição da obra pode ser replicada aos mercados quando analisamos o poder de contexto e o fator de fixação de certas narrativas. Em outubro, a curva de juros abriu rapidamente
desvalorizando todas as classes de ativos. Com poucos dias de novembro percebeu-se o exagero e o fechamento da curva gerou valorizações acentuadas em todas as classes, revertendo o prejuízo anterior. Diante de um ambiente duvidoso percebe-se uma transição de ideias volátil e ter ciência dos pequenos eventos que causaram essa situação é uma ferramenta essencial para analisar o que virá.
Concluindo, homenageamos o eterno investidor Charlie Munger com uma frase que nos inspira: “O melhor modo de obter sucesso é merecê-lo”.
CENÁRIO ECONÔMICO E DE MERCADO
Para este mês de novembro destacamos uma profunda reversão do movimento de abertura das curvas de juros ocorridas em outubro. A desvalorização intensa e atípica de outubro provou-se exagerada e acompanhamos o retorno dos ativos aos patamares anteriores com um fechamento adicional de juros.
BRASIL
A prévia da inflação brasileira, IPCA-15, foi de 0,33% em novembro e ficou 0,12 ponto percentual acima do resultado de outubro (0,21%). No ano, o IPCA-15 acumula alta de 4,30% e, em 12 meses, de 4,84%, abaixo dos 5,05% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. O número veio acima das expectativas.
O Governo revisou a previsão de déficit fiscal para este ano elevando o déficit de 1,3% para 1,7% do PIB. Em contrapartida, novas tributações para offshores e fundos fechados foram aprovados no Senado e retornam para apreciação da Câmara. Os gastos desenfreados resultam em mais tributação e menor crescimento econômico.
Segundo o IBGE, o PIB avançou 0,1% no terceiro trimestre de 2023, na comparação com o trimestre imediatamente anterior, já livre de efeitos sazonais. O resultado representou uma desaceleração em relação ao crescimento observado nos dois períodos anteriores, quando o PIB avançou 1,4% e 1%, respectivamente.
MUNDO
O FED manteve as taxas de juros inalteradas nos EUA na primeira semana de novembro. A decisão, seguida de indicadores de emprego, deu início ao movimento de fechamento da curva e revisões do mercado sobre o fim do aperto monetário. Em outubro era esperado que o FED voltasse a subir juros e permanecesse por mais tempo no patamar de entre 5,25% e 5,50%, ao término de novembro se observa que o ciclo terminou e cortes podem vir a ocorrer mais cedo em 2024.
Novembro marcou uma aceleração no preço do petróleo que valorizou 10,80%; e no minério de ferro que reverteu uma desvalorização no ano para uma singela apreciação de 2,8% devido a alta de 10,4% no mês.
Javier Milei surpreendeu o mundo ao torna-se o novo Presidente da Argentina vencendo Sérgio Massa no segundo turno da eleição.
Agradecemos a leitura, o tempo e a confiança.
Pedro De Cesaro Rodrigo Villa Real
Founding Partner Economista-chefe
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