O Indivíduo e o Leviatã
“O bem que o estado pode fazer é limitado; o mal, infinito. O que ele nos pode dar é sempre menos do que nos pode tirar.”
Roberto Campos
O mês de abril continuou a tendência de plena atenção aos dados de emprego, atividade e
inflação americanos. Tais números causaram volatilidade nas curvas de juros e bolsas frente a dados mais fortes do que o esperado, mas me permito colocar o tema temporariamente de lado para cartas futuras.
Nesta carta, dedicamos plena atenção ao desafio que o estado do Rio Grande do Sul enfrenta dada a maior tragédia de sua história. O desastre natural que atingiu praticamente todo o estado já impactou, até o momento em que escrevo esta carta, mais de duas milhões de pessoas. São 155 mortes confirmadas e mais de 530 mil gaúchos desabrigados. Alguns municípios terão de ser totalmente reconstruídos.
Frente a este desastre, uma série de problemas e fragilidades vieram à tona. Alguns estão sendo resolvidos e outros seguem em aberto. Com isso, os acontecimentos que estamos vivendo nos últimos dias, se analisados com atenção, remetem aos conceitos acerca da natureza do Estado e da natureza do indivíduo.
No clássico livro "Leviatã", de Thomas Hobbes, o filósofo inglês relata que o homem é o lobo do homem. O ser humano tenderia, em sua visão, à violência e ao uso da força para garantir suas vontades. O problema apontado por Hobbes seria resolvido com a adoção do Estado que garantiria a ordem, segurança e a propriedade dos indivíduos. Todos renunciam a um pouco de sua liberdade e seu patrimônio para uma instituição que os preservaria deles mesmos.
No entanto, o leviatã estatal nunca parou de crescer e exigir mais recursos para a sua existência. Assim como outorgou a si novas funções e encolheu, ao longo das décadas, a participação popular.
Porém, em meio à tragédia gaúcha, o que percebemos é que a contrapartida que justifica a existência do leviatã não se concretiza. A infraestrutura pública e a prevenção ao desastre fracassaram. A resolução imediata não veio da esfera pública e não teria como vir, dada a sua natureza burocrática. Pior ainda, do órgão governamental o que recebemos foi politização e tentativas frequentes de palanque.
Ademais, o indivíduo destacou-se como ator principal no auxílio imediato e na resolução dos problemas mais urgentes. Desde a reconstrução da infraestrutura até o trabalho nas mais variadas esferas que, para Hobbes, estariam sujeitas ao governo, percebemos que o filósofo se equivocou duas vezes. O Estado não é a solução e o homem, em sua natureza, não é o lobo do homem; muito pelo contrário, é generoso, solidário e empático com a dor ao seu entorno.
Como diz o hino que todo gaúcho sabe cantar: 'Mostremos valor, constância (...). Sirvam nossas façanhas de modelo a toda a terra.' A reconstrução e as soluções dos principais problemas da sociedade não vêm e não virão do Estado. Essas são lições aprendidas ao longo de séculos na economia e reforçadas nessas semanas no Rio Grande do Sul.
Estamos sempre à disposição para auxiliar nossos clientes em suas vidas, principalmente neste momento. Contem conosco na missão de reconstruir nosso Estado.
CENÁRIO ECONÔMICO E DE MERCADO
Para este mês de abril destacamos uma reprise do mês de outubro de 2023 onde um dado de inflação americana pior do que esperado causou elevada volatilidade. Apesar de um payroll fraco no final de abril o mês foi marcado por abertura nas taxas de juros longas americanas e brasileiras; e uma desvalorização acentuada em bolsa Brasil dada a desistência das metas fiscais pelo governo.
BRASIL
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de abril foi de 0,38% e ficou 0,22 ponto percentual acima da taxa de março (0,16%). No ano, o IPCA acumula alta de 1,80% e, nos últimos 12 meses, de 3,69%, abaixo dos 3,93% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.
O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) caiu 0,34% em março, após ter registrado uma alta de 0,40% em fevereiro. O dado veio pior que o esperado pelo consenso que previa uma retração de 0,25%. No trimestre encerrado em março, o índice de atividade teve alta de 1,08% em relação ao trimestre anterior.
De acordo o FMI, o Brasil deve registrar déficit primário maior que o esperado este ano e ter aumento da dívida pública bruta na comparação com o ano passado. Segundo a instituição, o monitor fiscal aponta uma piora para 86,7% do PIB e 90,9% em 2026.
MUNDO
A inflação do consumidor nos Estados Unidos subiu 0,3% em abril, abaixo do esperado. Taxa anual ficou em 3,4%.
Enquanto isso, a inflação ao produtor (PPI) nos Estados Unidos, acelerou para 0,5% em abril.
O cenário inflacionário americano segue incerto, como bem apontamos na abertura desta carta, e deve continuar no centro das atenções globais.
Na Argentina, os resultados dos cortes de despesas pelo governo já começaram a surtir efeito ao registrar o primeiro superávit trimestral desde 2008.
Adicionalmente, a Argentina de Milei vem mudando a sua relação com a China. Desde dezembro as importações chinesas tiveram queda de 35%. No mesmo período, as vendas argentinas para os chineses caíram 24,2%. Com isso, a China deixou o posto de 2º maior parceiro comercial da Argentina, sendo ultrapassada pela União Europeia e Brasil. Ademais, visando aproximação da OTAN, a Argentina optou recentemente por comprar dezenas de caças americanos e romper uma sequência de transações militares com os chineses.
Agradecemos a leitura, o tempo e a confiança.
Pedro De Cesaro Rodrigo Villa Real
Founding Partner Economista-chefe
Parabéns !!!